Caros leitores,
Há alguns anos escrevi que o Brasil assassinava a vocação de cada um ao massacrar o cidadão por meio de um totalitarismo cultural que, entre outras armas, praticava a ruína financeira.
Pois bem: mal sabia eu que tinha feito a profecia do meu próprio destino.
Desde 2020, tentei, das mais diferentes formas, encontrar maneiras de sustento para a pequena família que me acompanha (minha esposa, minha mãe e minha irmã; meu pai faleceu em 2021), por meio de newsletters como o Presto, sites como o Não É Imprensa, consultorias esporádicas, cursos avulsos, cursos mais extensos, trabalhos de livros institucionais (mas que acabaram por se tornar incrivelmente pessoais). Tudo isso para simplesmente pagar as contas, sem aviltar a consciência.
Ontem, infelizmente, ficou decretada a minha falência pessoal – tanto no aspecto econômico como no pessoal. Itaú dixit. Kaput. Finito.
Falhei miseravelmente na minha carreira. Investi tempo e espírito numa “guerra sem testemunhas” em que, exceto por um amigo e outro que me ajudou ora com incentivos de ânimo, ora com empréstimos financeiros (que tentei pagar do modo como podia, até o último centavo), ninguém pareceu compreender o que tentei realizar neste país. Escrevo estas palavras sem um pingo de sentimentalismo e de autocomiseração.
Porque a culpa não é dos outros. É minha, exclusivamente minha.
A situação objetiva é a seguinte: entre os membros da família, minha irmã trabalha para sustentar minha mãe, já idosa; minha esposa tentou, de diversas maneiras, emplacar diversos projetos de consultoria, mas o mercado simplesmente decidiu “sucatear” qualquer espécie de excelência – e toda vez que ela conseguia uma vitória ao ganhar a proposta, ou o pagamento era muito menor do que a exatidão exigida pelo trabalho, ou a empresa tentava tirar vantagem indevida da função que ela iria exercer.
O mesmo aconteceu comigo. A cada tentativa para conquistar um projeto, a avareza e a miopia sobre o que realmente eu poderia fazer eram os verdadeiros motivos de me colocarem de escanteio. Tinham uma Ferrari, mas preferiram me usar como um Fusca.
Sei também que a minha fama é a de ser uma pessoa difícil, inflexível. Entre todas as outras mentiras que já disseram a meu respeito, esta é a que mais me prejudicou, porque foi espalhada por amigos que até querem o meu bem, mas, na verdade, só me jogaram ainda mais no fundo do poço.
O problema não é ser difícil ou inflexível. É fazer de tudo para não perder a alma. Porque é isso que o Brasil deseja que aconteça com todos nós, seja do lado metido a progressista, seja do lado metido a conservador.
Sou difícil porque gosto de fazer as coisas corretas. E sou inflexível quando sei que a minha dignidade está em jogo. Eis aí a minha culpa. Peço desculpas: se isto é um empecilho para ter uma vida normal, então estou frito mesmo.
E não é que estou? Depois de quatro anos tentando pagar as contas em dia, ao fazer três empréstimos, ao pedir dinheiro para amigos – e pagando-os em dia, sem me esquecer das contas do mês –, ontem, depois de pedir ao maldito banco, onde tenho conta há vinte anos, uma linha de crédito que me aliviasse um pouco neste mês (e olhem que não era para apostar no jogo do tigrinho ou em alguma bet por aí), ela me foi sumariamente negada – algo que, segundo os dados que eu tinha disponíveis no meu aplicativo, era do meu direito.
(Algum espírito de porco sem dúvida perguntará: por que não pede ajuda para os seus sócios do Não É Imprensa? O Clube do Livro não está dando certo? Sim, está. Ora, por que então você não vende uma parte da sua biblioteca? Sobre a primeira e a segunda perguntas, não faço nada disso pelo simples motivo de que meus parceiros também tem os seus próprios problemas. Posso ter perdido liquidez financeira, mas ainda tenho algum recato. Não à toa que uso apenas esta newsletter para escrever esta mensagem. E a resposta sobre a terceira questão, ela é mais simples ainda: meus livros fazem parte da minha biografia)
Ou seja: minha conta está estourada, meu cartão de crédito morreu, e sobrou algum valor (que é do Não É Imprensa, graças a Deus) para pagar o teto que me abriga e ter algum conforto mínimo (leia-se: água, gás e telefone). O resto é resumido numa única palavra: falência. E não sei até quando vou suportar essa situação, já que, se ela continuar assim, terei de abandonar todo o trabalho que já fiz e estou fazendo.
Eu poderia aproveitar este desabafo para pedir apoio financeiro. Confesso que até gostaria disso. Afinal, é a minha sobrevivência e a dos meus próximos que está em jogo. Mas deixo isso para você, para a sua consciência. Se você acha que eu mereço sua ajuda, saiba que ela será muito bem-vinda.
Enquanto isso, farei de tudo para que não roubem o tesouro que ainda tenho dentro de mim.
Abraços do
MVC