Escapei da praia movediça
onde a areia e o mar tragavam
meus pés para encontrar
somente os trovões da alma.
Porque cada separação esconde
um germe de loucura, encarei
o poço da escuridão negado
pelos antepassados, incapazes
de vislumbrar o grão de
luz, plantado no passado
colhido na agonia cotidiana;
ou o alimento ofertado
aos deuses sedentos
de um porvir inútil, grávido
de trevas, anunciado
em um altar onde o fogo
arde nos olhos bêbados
de uma visão que nenhuma
lira traduziria
em harmonias e cantos
o que a alma anseia
quando, no combate
com o Anjo, a ferida é
o fruto da benção.
Mas no instante em que
a voz sussurra a lenta
queda deste mundo
dissolvido, o que fazer
se os ouvidos se calam
e o coração é apenas
mais uma batida no
pulso das estrelas?
Se ela diz ao corpo
que a jornada são lágrimas
sufocadas pela espuma do céu,
persigo então a resposta:
“Sim, sou o que vai ao
inferno quando quero
e de lá trago singelas,
claras, límpidas novidades”.
2006–2017
M.V.C.
S.D.G.
Quem quiser colaborar com o meu trabalho, além do valor da assinatura desta newsletter pessoal, pode me ajudar por meio do pix: martim.vasques@gmail.com
E quem quiser apertar o botão abaixo só para fazer a minha felicidade - e manter essa newsletter de modo mais profissional, be my guest: