Agradeço novamente pela resposta, Martim. Só uma correção, você publicou minha pergunta com o nome de Guilherme Dutra, mas é Guilherme Matos.
No seu texto “Uma simples arte”, do ano passado, você menciona que trabalhava em um local que não tinha outro método a não ser "sugar as minhas forças". Me sinto em uma situação parecida. Queria perguntar, como foi que você conseguiu sair desse emprego e achar um caminho melhor? – Guilherme MATOS
Bem, Guilherme, em primeiro lugar, mil desculpas por errar seu nome. Eu mesmo fico muito puto quando fazem algo semelhante comigo. Já fui chamado de “MartiN” (em espanhol, inglês e alemão), “Martinho”, “Martins”, entre outros nomes que simplesmente nunca me identificaram de forma alguma.
Sobre a sua situação, como eu não sei a circunstância concreta, a única coisa que posso aconselhá-lo é a seguinte: naquela época em que se passa o meu texto, eu era solteiro e meu pai ainda estava vivo – portanto, eu podia abandonar o lugar que sugava minhas forças e escapar dele o mais rápido possível. O que me prendia ali era a falsa estabilidade e o fato de cair um salário no meio e no final de cada mês. Quando eu percebi que isso era uma ilusão e que eu só estava naquele local de trabalho porque é o que todo trabalho provoca no seu íntimo – no fundo, se ele não for a sua vocação, é inevitável que vá te escravizar -, então tomei a decisão e pulei fora do barco.
Mas, hoje, com mulher e depois do falecimento do meu pai, não sei se faria isso novamente. Ficar mais velho é também ter outras responsabilidades – entre elas, a que você precisa ajudar os mais próximos. Então, se você tem filhos, mulher e outras pessoas que precisam da sua ajuda, sugeriria pensar duas vezes; se não, se você é ainda livre (pelo menos no aspecto financeiro), caia fora com urgência.
Boa tarde, caro Martim.
Uma das características da arte (pelo menos na arte antiga e medieval, eu acho) é sublimar o Ser por meio da obra artística. Ou seja, em uma obra de arte o Ser está atuando nela, e o material precisa manter a contextura do Ser por convocá-lo a partir da contemplação da obra. Assim, há, ontologicamente, esse Ser que dá aura à arte. Não obstante essa característica, a arte contemporânea (a meu ver) amputou a atuação do Ser; isto é, não há mais ali um Ser atuante e, com efeito, os itens fenomenológicos não levam a um conteúdo ontologicamente objetivo, pois, deveras, não há nenhum. O corolário é um reducionismo subjetivo. Não seria isto, talvez, uma ressonância do niilismo na arte?
Ps.: Poderia, por gentileza, me indicar alguns livros de Filosofia da Arte e Estética para este pacato cidadão? – Victor Brongel
Infelizmente, e eu vou escrever isso da maneira mais delicada que conseguir, você está redondamente enganado. Esta é uma visão da arte que foi divulgada pela “nova direita” e que prejudicou imensamente a educação de uma imaginação sadia.
A arte moderna, mesmo na sua aparência niilista, também tem o Ser nela envolto, ainda que pareça decadente, profana, ou algo parecida. Se você acredita que o ato criador é uma imitação do próprio Deus, então você também precisa acreditar que o artista moderno, a contragosto, também preserva um pouco de divindade em suas obras.
Os exemplos são inúmeros: veja a recuperação da iconografia que Andy Warhol faz com suas pinturas pop. Ou a capela de Mark Rothko; ou a de Henri Matisse. Mesmo Dalí (que eu não gosto) tem seu questionamento metafísico.
Recentemente, temos as pinturas de Makoto Fujimura. Aliás, se quiser recomendações de leitura, eu sugiro Arte e Fé, do mesmo Fujimura, que foi lançado no Brasil no ano passado, e Silence and Beauty, no qual esse mesmo pintor medita sobre o romance Silêncio de Shusaku Endo e o filme homônimo de Martin Scorsese, baseado na obra.
Também sugiro a leitura do Substack do Ted Gioia (além dos livros dele, é claro), que mostra os rumos imprevisíveis que se avizinham de uma nova contracultura prestes a surgir.
Caro Martim!
Você recomendaria para Bolsonaro e Lula, Os ratos ou O Louco do Cati? – Sergio Barbi
Sem dúvida, Os Ratos é o livro que praticamente dramatiza o tormento de ser um brasileiro que enfrenta o famoso “monstro do boleto” (no caso, simbolizado pelo leiteiro que recusa uma mísera garrafa de leite matinal). A outra obra citada do Dyonélio eu não conheço, infelizmente.
Mas suponho que indicar Dyonélio Machado para essas duas antas é um desserviço ao próprio Dyonélio. Então, a única indicação que faço para eles é a prisão (de onde um precisa ir e de onde um precisa voltar em breve).
Lendo os livros Capanema, do Fábio Silvestre, e o livro Lira Mensageira, do Sergio Miceli, percebe-se que no fundo ambos tratam do mesmo assunto: a relação do intelectual com o poder. De que forma você enxerga o fascínio que o poder exerce sobre os intelectuais e quais meios eles dispõem para não corromper o espírito? E mais: quais outros livros abordam de forma mais contundente essa relação entre a vaidade intelectual e o poder?
Uma curiosidade pessoal: na sua opinião, o que pode ter levado Drummond, um humanista, a ter sido chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação do governo de Getúlio Vargas, em um dos períodos mais sombrios da nossa história recente, em que vivíamos definitivamente em uma ditadura política? Teria sido por questão de amizade a Capanema, conforme revelou em entrevista antes de sua morte? – Paulo Henrique Santos
É impressionante como alguns dos leitores que aparecem por aqui me fazem perguntas que eu já as respondi em meus livros e em textos que escrevo e publico há mais de vinte anos, seja na internet, seja nos jornais (por favor, Google is your friend). As redes sociais são de fato aquele lugar em que alguém sugere ao Papa Francisco que leia um livro chamado “A Bíblia” e que David Simon assista à série The Wire para ele entender melhor o que acontece com a polícia de Baltimore (sim, os dois eventos ocorreram; pesquisem, meus putos).
Os dois livros citados são brilhantes (especialmente o do meu amigo Fábio, uma obra-prima que ninguém deu a atenção devida porque a nossa intelectualidade já vendeu a alma para Mefisto há muito tempo), mas o fato é que tudo isso que você me questionou, Paulo, está no capítulo “Crônica de uma morte anunciada”, sobre o Modernismo Brasileiro, e que faz parte daquele catatau que todo mundo adora xingar porque ocupou um hectare inteiro na cabeça de quem foi incapaz de escrevê-lo – A Poeira da Glória.
Portanto, leia o meu livro e você saberá tudo isso que o atormenta há tempos. E, se não gostou do tom da minha resposta, que tome um piparote na testa, como diria o bom e velho Machadão. Salud.